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Mostrando postagens de novembro, 2016
Mariazinha tinha um carneirinho Mas seu carneirinho era doente e raquítico Seu carneirinho frágil como orvalho Seu carneirinho invejado por vizinhos. Um dia, roubaram o carneirinho de Mariazinha E Mariazinha chorou noite e dia por seu companheiro amável e querido Havia-o perdido. O pai de Mariazinha, comprou-lhe outro carneiro, o mais parecido possível com seu antecessor. Mariazinha esperneou e chorou Jogou-se no chão Jogou terra na cara Rasgou suas roupas Queria seu carneirinho 1.0, não o simulacro bagaceiro. Com o tempo Mariazinha habituou-se Aprendeu a rir das estripulias do carneirinho 2.0 Tomou por certo, todas as noites, dar-lhe um beijinho e desejar-lhe bom sono. Dividiu a primeira desilusão amorosa com o amigo embaixo de uma frondosa painera Abraçou-o quando sentiu-se triste. Começou a amar o carneirinho 2.0, tanto quanto ou mais que amara o carneirinho 1.0 Os carneirinhos precisam de cuidados De quem os alimente De quem cuide de seus aposentos para d
Ferida aberta que sangra, que lateja, que coça Ferida aberta por ti, por mim, por desconhecidas, por amigos Ferida aberta que não sara, sem emplastro de Brás Cubas Ferida aberta tosca, sem regra gramatical, sem a elegância pedante de Paulicéia Desvairada Ferida aberta arrogante, quieta Ferida aberta como flor, mas sem cheiro Ferida aberta como flor, mas sem pétala Ferida aberta como flor, mas sem caule Ferida aberta como flor trocada de vaso, múltiplas vezes Ferida aberta sem proposito: nada além dela mesma Ferida aberta que verte em palavras e versos Ferida aberta Ferida aberta Não quero cura pra minha ferida aberta Quero flor que não murche em contato com o mertiolate. Quero companhia pra arder, pra sangrar, pra latejar, pra coçar. Do contrário não é ferida, é terapia. Do contrário não é ferida, é cicatriz Do contrário não é ferida, é consolo pro inconsolável. O contrário de ferida, não a cura, mas a lepra insensível. Ferida aberta de dia e de noite É f
Corre em meu corpo, feito eletricidade, o teu perverso registro em minha pele Quando te escrevi linhas dizendo que  abre aspas vou anular o registro do teu corpo no cartório fecha aspas Falava a mim Avisando-te de minha intenção Não estava mentindo Estava como aqueles caras engraçados com bandeirolas nas mãos,  fazendo nada além de marcar o caminho do pouso para o piloto na cabine Não tenho as respostas prontas. Não sou arquivista e ainda não encontrei tua certidão Ou talvez você a tenha comido vorazmente Pra registrar-se de modo diferente Eu também sinto falta de um não sei bem o quê E como poderia não sentir Perdi minhas mais belas conquistas Minhas mais promissoras possibilidades Aquela luz que não me iluminava, mas que servira como farol ao marinheiro Eu te grito isso Eu te mostro isso Mas falamos em línguas diferentes Você não me entende e eu não te entendo Eu não te entendo, eu te sinto Sinto tuas profundas angústias, tuas tri
Queria ter a genialidade de Pablo Neruda quando confessou seu amor sóbrio por seu cão falecido. Estou no limiar da frieza e da queimadura: ambas machucam. Estou no lado de fora de mim: não interiorizo Estou cambaleando pela rua: podre de sóbria Estou sempre sozinha com minhas várias: no meio da multidão Estou caindo, caindo, caindo: nomeio multidão Irritantemente devagar Caindo pra fora de mim, pra fora do que devo Pra dentro apenas do que posso: nada Pra fora daquilo que quero: tudo Mas o tudo é uma imagem na água, que o mero pingo faz tremer Um pingo infantil e pequeno, sem poder de fogo nem de água Tremula todas as minhas cordas muito esticadas Esticadas o suficiente pra não fazerem melodia Não fazerem ritmo, não serem agradáveis aos ouvidos Minhas cordas estão esticadas, soltando estridências pelo ar Ninguém as quer ouvir Ninguém as suporta sem sentir aflição nos dentes Este é o preço a me pagar, que não fora estipulado por mim. Não conheço as leis fiscais: s
Pra onde vai tudo aquilo que não consigo escrever? Pra qual território distante viajam minhas palavras quando olho no fundo de tuas meninas, repetindo como mantra, a beleza dos teus olhos? Eles são a morada de meninas bonitas, meninas cativantes, meninas tímidas. Talvez elas guardem consigo uma bolsa pequena carregada nas costas, onde guardam travessamente as palavras que teus olhos me furtam.
Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra sem ctrl+c Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra Xucra sem ctrl+v xucra se corretor ortográfico. Xucra eu Eu xucra: Quando não souber pelo que me chamar, quando eu te irritar Saiba que sou xucra Mas que em nada isso interfere na minha capacidade de sentir De evadir De transbordar De extrapolar os meus e os teus poros. Faz apenas que quando eu xucra contigo me chocar Me senta culpada Simplesmente por ser Xucra. Chucra.
Para uma Proto Poesia Projeto sem nenhum horizonte em alvo Sem metas modulantes Sem objetivos objetivos Apenas como caminho percorrido de poesiar De expurgar de si para si De outro para outro Toda a complexidade do Universo dentro de sua autora Não para resolver algo, não para pôr questões Mas para trazer, à luz da língua, toda a ignorância de quem tem Alma afoita de poeta Peito pesado de guerreiro Coração ardente de amante Cuidados à minúcias de esposa Inquietações de filósofo peripatético Selvageria de canibal De quem não sabe ser nada além de intensidade De quem está por aprender a amar Mas que o sofre por sentir, em cada fibra De quem se apaixona De quem fala mais do que devia Mas não fala o indispensável Sem a disciplina de estoica que me seria indispensável Sem temperança Só com possibilidades em aberto Com o corpo por escrever A quem quiser ler. Ou não.