Mariazinha tinha um carneirinho
Mas seu carneirinho era doente e raquítico
Seu carneirinho frágil como orvalho
Seu carneirinho invejado por vizinhos.

Um dia, roubaram o carneirinho de Mariazinha
E Mariazinha chorou noite e dia por seu companheiro amável e querido
Havia-o perdido.

O pai de Mariazinha, comprou-lhe outro carneiro, o mais parecido possível com seu antecessor.

Mariazinha esperneou e chorou
Jogou-se no chão
Jogou terra na cara
Rasgou suas roupas
Queria seu carneirinho 1.0, não o simulacro bagaceiro.

Com o tempo Mariazinha habituou-se
Aprendeu a rir das estripulias do carneirinho 2.0
Tomou por certo, todas as noites, dar-lhe um beijinho e desejar-lhe bom sono.
Dividiu a primeira desilusão amorosa com o amigo embaixo de uma frondosa painera
Abraçou-o quando sentiu-se triste.
Começou a amar o carneirinho 2.0, tanto quanto ou mais que amara o carneirinho 1.0

Os carneirinhos precisam de cuidados
De quem os alimente
De quem cuide de seus aposentos para dormir
De quem lhes banhe
De quem limpe seus dejetos.

Mariazinha, depois de certa idade, matou o carneirinho 2.0
E fez dele um belo assado para o aniversário do pai.
Não importou o desabafo, a risada, o carinho, o laço.
Não importou nada: seu pai arrotara
Não importou nada: estavam todos de barriga cheia dos momentos que o carneirinho 2.0 deixara de pastar para ficar ao lado de sua amiga.

Para essa lenta e penosa digestão? Engov.

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