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Mostrando postagens de março, 2017
Não queria que você fosse, que ficasse inacessível agora. Sei que lhe conheço a pouco, e mesmo que seja um pouco mais os outros, ainda é pouco. Não que existam verdades que demandem tempo para as palavras, é que são muitos dizeres. Dizeres até atordoantes, até chatos, até desinteressantes, até estúpidos: aqueles cujas torpeza e vulgaridade desencorajam qualquer escuta.E são longas as horas nas quais a escuta me fora negligenciada. Não julgo, ou melhor: julgo todas, não condeno ninguém, nem ouvido, nem escuta, nem palavra. São essas coisas sabe? que vão perdendo a voz em lamúrias pelos cantos, mas não só lamúrias: os cantos e os contos silenciados nas esquinas, nas esquivas, nos tetos e nas paredes. Esses sussurros que comunicam no espaço pretensiosamente ocupado entre minhas orelhas. -Você reparou nas lições do vento? Nos sons ancestrais que nos aconselham? Faz-se presente no farfalhar das folhas desacreditadas. -Você ouviu a mudança? Dizem os boatos que trocamos de problemas, mesmo
Escrava dos próprios silêncios Jogando pedaços de pão aos próprios tormentos à beira do lago Perdendo-se em todas Para se enc..ontrar Qual será a solução quando a aposta gorar E o tempo requisitar o convívio de si consigo? Quem irá perder os olhos e os ossos nas paredes do inimigo? Quantos nós para desmentir a rede de pescar estrelas do céu que já clareou?                                                     Pra quem será lançado o agouro? Paz, quietude, tranqüilidade: Pede, mas pede com fé Pode ser que a tua oração sedenta Horrorize a sacerdotisa atenta Quando ela perceber que a paz tu pedes enquanto a guerra sustenta E horrorizará Pela gritante distância entre letras e gestos Não soube expressar bem teu protesto Pede por sentimento cujos atos bradam: -Perverso! E pedes, clamando auxílio Implora ajuda para resistir ao exílio Que criastes para auto-convencer que foi tolhida a liberdade Mas o quão livre é quem se reivindica uma verdade Cuj
Há um ímpeto de loucura em  cada gesto comedido Há fúria homicida escondida nos abraços de harmonia Há pesar de ontem no perdão de hoje Há perdão de ontem na falta do porvir Há lágrima interrompida na vista esmaecida Há vulto sem cor disfarçado de quebra-pudor Há sempre aquela palavra não dita, sempre esperança de melhora pós-sono, sempre certeza de equilíbrio depois do torpor Há. Há festas negadas nas cabeças grisalhas...arrependimento Há crise geradora em todo poeta desconhecido E um pouco de mártir em toda voz aumentada Há um poeta morto de tédio atrás do aplicativo Alma desesperada em todo site de encontro Há desventura em todo sonho, frustração e desconsolo para calibrar Há ajustes no perfeito, arremates no pronto e retoques na tela exposta que ninguém fez Talvez não se perceba, mas sinta em cada fibra fina que tenta tremer Há audácia no cotidiano Rega-se de tédio o exagero Tempera-se o ócio da labuta infinita, mais-valia da alma que insistem e

Língua

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Boca eu beija e que diz...língua abrigada Língua torpe que lambeu postes e genitálias Que disparou gritos de ordem Que umedeceu o lábio superior Que esfregou os dentes sujos Língua com grossa camada de amido Língua azeda de amanhecer. Língua que tocou todos os pelos dos paralelepípedos Língua que pinta o macio Língua epilética que dissolveu o ácido Que provou o terroso e mofado cogumelo-morango de Caio Fernando Que recitou Blake para mal dizer Newton Que cansou de explicar o indizível Revigorando-se nos movimentos entre-dentes Que lambeu a goma da seda e selou o baseado. Que adormeceu após o teste da cocaína encontrada Que se adoçou na festa de Cosme e Damião Língua bifurcada de cobra e de lagarto. Língua morta que agremiara comunidades outrora Língua desconhecida dos transes religiosos Língua travada na loucura do cotidiano Língua que assassinou línguas nos bancos escolares Língua que amou embaixo das escadas Língua-dedo em cada esc