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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Viaduto

terra doída rachada ardida Sob os pés de fissurados calcanhares jaz terra ardida Solo de pernas deitadas em feridas acocoradas na merda dobrando a esquina Não é possível transferir a linha pra baixo até vai mas jamais pára acima Os trabalhadores perderam a hora certa de dormir a narina Sete e meia da manhã pisam na grama minha terra doída rachada ardida ardido meu pranto de cimento recolho em baixo do vento Pedaços e milhares, pares e pés, atormento Diminuem o olho pois tem documento Tem fone de ouvido teto e intento O doutor não vê o grão dos olhos dos que tão no relento Chuva pesada inunda a rua transborda excremento Somos ponto de contato vergonha de fato caída no esquecimento terra doída rachada ardida rachando e abrindo escurecendo e engolindo pras entranhas da terra voltamos ao primórdio quando barro água terra corpo e luz dançavam por um momento Mas o filhotinho do papai cobriu impiedosamente o cimento de gélida água inverno Outros tantos anteriores vem,

Imagina o Despautério!

De uma forma ou outra, acabo voltando à mesma questão depois de voltas e rodeios: o que será daqui pra frente quando lá na frente eu tiver que olhar pra trás e ver que após a partida de meus ascendentes eu simplesmente não consegui descobrir de fato o que fazer e onde colocar todos os passos calçados que ainda andarei? abuso. Esse pergunta me causa asco, nojento e dissimulado, que disfarço e desfaço esfumaçando esses devaneios. Imagina se com quarenta eu ainda não tiver casa própria e carro bacana e relacionamento minimamente saudável e poupança na caixa economica federal e ainda não tiver andado de avião e ainda não ter conseguido transar com todas as mulheres que quero e ainda não conseguir falar pelo menos mais três línguas estrangeiras e ainda não tiver conseguido fazer um seguro de vida e ainda não ter conseguido prosseguir com meus estudos e superar as náuseas que as pessoas vazias da academia me causam e ainda não ter aprendido a retrair minha cara inconfundível de nojo diante

Almoçando-se

Num sábado nublado ela se engoliu. Sem náusea ou culpa ou ingratidão nem repulsa, mas sem fome ou apetite ou voracidade. Apenas serviu-se em prato vagabundo de bazar de vila e devorou-se. Desmembrou-se pouco a pouco, depois de se descongelar quinze minutos no microondas. Emergiu sua antiga carne, desossou-se, tirou a pele arrepiada. Marinou em vinho branco durante 30 horas. Amaciou o que fora seu corpo íntegro. Sal a gosto e pimenta do reino, alecrim pra dar cheiro, e muita cebolinha picada miúda. Picou-se com delicadeza sem medo de cortar os já desmembrados dedos, desprovidos de falanges. Refogou cebola e alho, muito alho, alho pra cacete, em frigideira antiaderente Polishop com margarina pra não esquecer que o plástico está em todos os recôncavos reentrâncias e prateleiras, travestido de múltiplos nomes, inclusos os de comida. Selou suas duras carnes com azeite de girassol, cebolas e alhos já diminuídos e translúcidos pela ação do fogo. A cozinha inteira inflou-se com seu cheiro gl

Endosso

Endosso procura-se por endosso Sem carne nem osso Fim do amargo gosto Com cor de colosso Endosso recuo diante do moço nomeado fundo de poço Grito rouco de desgosto para finalizar o esboço Pode falar que não ouço Endosso procuram por endosso Depositam no outro E desresponsabilizam-se.