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Mostrando postagens de fevereiro, 2018
Queria uma outra forma, talvez adquira, talvez não. A (de)forma importa! Mas e o que é dito? Aquilo que se diz como se fosse a última oportunidade de dizer algo neste mundo e de ser ouvido - numa situação ideal - aquilo que vem sendo dito antes do som sair da boca. O que de fato se diz? Digo no sentido mais desgraçadamente literal. Praguejar, filosofar, entoar cânticos, hinos e odes, palavras de ordem: basta de opressão! O que de fato se diz? Quando nos perdemos nos olhos da alteridade e enunciamos tão orgulhosamente, como pavões, as nossas pequenas grandes verdades. Como se houvessem tantos segredos e mistérios, como se tivéssemos descoberto a radiotividade: dizemos com certa pompa nossos pensamentos de banco de ônibus para massagear nossos egos. Mas o que de fato dizemos? Lá, no olho da outra, no ouvido da outra, onde as filosofias modernas vão se esvaindo. Lá, no dito morto cotidiano (mas que pulsa com todos os devires loucos ainda virtuais), lá mesmo onde a nervura grossa pulsa e

Nada

Nada não é tudo Mas já é algo E se for muito Principalmente vários muitos Acaba virando tudo E o tudo torna-se pouco. Nada pode ser tudo. Tudo será sempre nada.

Sonho de uma noite de quarta-feira

Vermes parecidos com larvas de mosquitos insistem em grudar em minhas coxas como sanguessugas. Uma por vez. Tiro a uma, gruda a outra. O negrume do filete do tubo digestivo (ou o que suponho ser o tubo digestivo) do pequeno animal é envolvido  por transparência gelatinosa em contraste com a alvura anêmica da minha coxa. Penso na insossidade da cor de minha pele como efeito da presença parasitária. Sempre que tiro um verme, outro gruda.
tire sua cara dos meus olhos tire já antes que eu só tenha a tua cara para olhar tire já.
encontros com outras são finais sem começo encontros comigo são começos sem final desencontros são pontes

Casa Amiga

De uma noite de quinta. Enxergava o Fábio com seu sorriso esplendoroso, acompanhado do costumeiro abraço que enlaça o corpo num único braço e traz ao peito. Abraço quente, apertado. Abraço que faz sentir-se em casa amiga. Olhei fundo nos olhos dele e disse que estava com saudade. Digo isso desde meses atrás, quando ainda encontrava-o frequentemente. "- Já tô com saudades!" "- Ai linda! tu vai ir visitar eu e as gurias!" Abraço de casa amiga. Foi um sonho simples e pequeno cuja ação pratiquei em vigília. Acordar e perceber a verossimilhança amiudou meu peito. Saudades de seu abraço de casa amiga. Não de qualquer outro abraço de casa amiga, mas daquele abraço, daquela casa, daquele amigo. Saudade é um choro que se chora seco.

Epifania

Deitada naquela pedra fria, ela soube que era a mulher mais solitária do mundo. Desaparecera o som motorizado do Uber. Silenciou. Não levantou. Permaneceu ouvindo seu soluço próximo e os escapamentos, os gritos loucos da noite, a vida que passava atrás das grades. A casa tão bela, espaçosa e opulenta   serviu aos deleites oculares. Em seus cômodos hospedaram-se espalhafatosas e carnavalescas purpurinas roxas. Brilharam teimosamente nas roupas de cama, banheiros plantosos e chãos plantares. Brilharam em seu corpo e no corpo opulento de Nanda. Torcendo talvez o não tão opulento nariz para o trabalho de tirá-las   antes das 7 da manhã. Não apareceria brilhosa no café da manhã de aniversário com a namorada e o filho, especialmente do glitter   alheio. E fora. Após perguntar contatos para as redes antissociais, fora. Após pequenas ansiedades com o desaparecimento da chave, fora. Após sucessivas tentativas de chamar o aplicativo de transporte, fora. Após encontrar-se no corpo de uma desconhe