Queria uma outra forma, talvez adquira, talvez não. A (de)forma importa! Mas e o que é dito? Aquilo que se diz como se fosse a última oportunidade de dizer algo neste mundo e de ser ouvido - numa situação ideal - aquilo que vem sendo dito antes do som sair da boca. O que de fato se diz? Digo no sentido mais desgraçadamente literal. Praguejar, filosofar, entoar cânticos, hinos e odes, palavras de ordem: basta de opressão! O que de fato se diz? Quando nos perdemos nos olhos da alteridade e enunciamos tão orgulhosamente, como pavões, as nossas pequenas grandes verdades. Como se houvessem tantos segredos e mistérios, como se tivéssemos descoberto a radiotividade: dizemos com certa pompa nossos pensamentos de banco de ônibus para massagear nossos egos. Mas o que de fato dizemos? Lá, no olho da outra, no ouvido da outra, onde as filosofias modernas vão se esvaindo. Lá, no dito morto cotidiano (mas que pulsa com todos os devires loucos ainda virtuais), lá mesmo onde a nervura grossa pulsa e anima o ser. É lá que devemos estar pra dizer. Mas dizer o quê?
Como se diz  o que importa? Como se põe na língua toda a maravilha e a loucura de estar nesse mundo ' grudado como carrapato' e fazendo força pra estar aqui, com essa terra sob a sola dos pés, com força e gana e garra e desespero em proteger nossa existência, com sangue nos olhos e mordeduras no lábio inferior pra afirmar a alegria de viver, a gratidão, o regozijo, o disparate. Protegê-la para que possamos nos dedicar à essa coisa sem nome, confusa e múltipla que está dentro do peito de cada uma e cada um de nós. Essa coisa sem nome nos põe questões sobre esse mundo: não pra serem resolvidas ou sim, quem sabe. Antes de resoluções: partilhas. Essa coisa sem nome precisa ser compartilhada, é ela e não nosso ego que importa afinal de contas. 
Dizer isso afinal de tudo: foda-se se vai sair confuso ou extremo ou desconexo, não é pra fazer sentido, é pra fazer sentir-se.

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