Terminei a leitura do quarto livro de Lya Luft. O primeiro, meu e dela, lera por indicação de um amigo. As parceiras. Tens que ler esse livro, vais te identificar. Comentei com a colega da mesa ao lado, adorei esse livro, adorei essa autora. Alguns dias depois me trouxera de sua estante particular mais três: A asa esquerda do anjo, reunião de família e o quarto fechado. Nenhum me afetou tanto quanto as parceiras. Me senti profundamente tocada, nem tanto pelos dramas familiares, mas pela incompletude das personagens, por seu alheamento desesperado pelo outro, por seus medos. Um pouco tocada também pelos rabiscos de lápis em alguns parágrafos: acompanhavam Lya Luft algumas palavras chaves postas pela leitora. Identidade, culpa, hipocrisia, medo de, medo da sexualidade. Fazia tempo que não encontrava um reconhecimento no que lia, tão absorvida pelas leituras da faculdade. Páginas e páginas de desespero que os professores nos empurram goela abaixo na esperança de que nossos débeis e alcoolizados cérebros sorvam a historiografia do mundo que se debate no presente. O que me chateia, e que de certa forma me leva a escrever agora é o meu tédio tão profundo por essa depressão tão igual. Em quatro livros que falam sobre família, morte, desajuste e anomia, encontrei personagens tão iguais em histórias diferentes. As histórias se repetiam. Talvez esteja sendo cruel e maldosa. Foda-se. Escritos antes de Luft cair na fácil e comercializável teia da autoajuda barata e da crônica de jornal, esses romances são iguais. São relatos estranhos de deslocamento deslocados da autora para suas personagens meio muito iguais: reservadas, crianças solitárias, adultas incompreendidas, afundadas em casamentos sem sentido. Sempre uma lesbianidade em segundo plano, de uma irmã tia prima cunhada, sempre no passado horrendo dos segredos familiares.
Me cansei um pouco.
Me cansei desse tom depressivo.
Mas não é um cansaço em termos literais e sim um tédio pela mesmice.
Mesmice de escrever mesmices, com as mesmas palavras, com as mesmas expressões. Os sapos que explodem barrigas. A severidade de um homem ou mulher chefia de família. A decadência. Depressão por depressão prefiro a minha, tão sensorial que chega a dar dor de barriga. (Im)possível de ser mascarada para os amigos. Em vai e vem. Em ciclos. Em períodos. Ora bem, ora péssima. Ora faminta pela vida que pulsa no concreto da cidade, ora querendo jogar-se dele para a morte breve.
A minha incompreendida e incompreensível solidão no meio da multidão. A minha estarrecedora capacidade de fingimento e dissimulação. A minha voraz fome e ódio pelo tédio que circunda as ruas e as vielas. A minha febril e abusiva relação com a vida, querendo estar nela, mas pelo lado de fora.
Para o inferno com Lya Luft.

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