A gente vai caindo assim, de mansinho na resposta fácil: é por estar só. Se está mal, é por estar só. Se está doendo, é por estar só. Se não faz bem, é por estar só. Se usa drogas, é por estar só.
Mas que bosta.  Que refugio maravilhoso deve ser a obrigação de estar acompanhada para ter um depósito primário para sua própria culpa. A gente vai caindo assim, de mansinho na resposta fácil:é por causa da outra. Se está mal, é por causa da outra. Se está doendo, é por causa da outra. Se não faz bem, é por causa da outra. Se usa drogas, é por causa da outra. Mas que bosta. Que refugio maravilhoso deve ser a obrigação de estar só para ter um depósito primário para a culpa alheia. A gente vai caindo assim, de mansinho na resposta fácil: é pela fragmentada pós modernidade.
Não podemos estar mal. Não podemos estar bem.
A gente vai caindo assim, de mansinho na resposta fácil: estou bem. Se está bem, é por estar bem. Se está doendo, é por estar bem. Se não faz bem, é por estar bem. Se usa drogas, é por estar bem. Mas que bosta. Que refugio maravilhoso deve ser a obrigação de estar mal para ter um depósito primário para sua própria maldade.
A gente vai caindo assim, de mansinho na resposta fácil do silêncio de todos os dias. Nos fones de ouvidos alheios. Nas batucadas de pernas e unhas nas mesas de plástico. No entorpecimento do corpo e da alma que não preenche o vazio. Não é pra preencher. Não tem motivo. Não tem vazio. Só o delírio incompreensível e arrebatador da loucura. Não tem lenda, não tem preguiça, não tem bocejo. Não tem nada daquilo que nossos parentes nos mentem desde a infância que supostamente deveríamos ter para sermos felizes. Não tem porra nenhuma.
Tem a passagem dos anos. E talvez com alguma sorte tenha a ignorância da juventude que crê que o ecstasy pode ser renovado de maneira artificial depois de algumas horas. Depois só sobrarão as respostas vazias, os encontros anuais com amigos, as reuniões de família, as responsabilidades laborais sem sentido pessoal, os boletos intermináveis, os aros de óculos, os antidepressivos e as aparências que não duram depois da segunda dose de tequila. Iremos todos cair assim de mansinho na estupidez diária das respostas de perguntas vãs.

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