O mesmo-adverso bizarro ou Da Esperança.
Disse para parar de filosofar.
-Não posso mais ouvir isso! Onde estão as tuas opiniões?
Você só sabe escapar.
Que injustiça! Levara alguns anos para entender o mínimo dos
pensamentos anteriores. Construí com eles um abrigo para os dias cansativos e
noites insones. Remoía-me ao perceber que as questões vem exaustivamente sendo
colocadas com novas molduras em outros mesmos tempos nossos. E pasmei. Ora,
como poderia parar?
-Você e seus autores tem resposta pra tudo.
É o que acontece com as mesmas perguntas. O meu original-
meio plágio, meio irreal - escrevi naquelas folhas bonitinhas, com linhas
vermelhas e joaninhas no rodapé.
- Ai que lindo! Deixa eu postar uma foto dessa poesia.
E não me leu, ou leu e não me viu, ou viu e não me
reconheceu pois ali eu estava rearranjada em meus elementos. Ali estava toda a
pólvora ensacada fragilmente em tramados de penas. Guardastes no roupeiro para
que as demais frequentadoras do teu corpo não me vissem. E deixou de entender.
- Não posso ouvir mais isso! Onde estão as tuas opiniões?
Você só sabe escapar.
O tempo é uma máquina de fabricar palavras tortas. Mas como
entenderia minhas palavras riscadas no grito se nem ao menos entendes a clareza
dos dizeres de meus olhos? E comecei de pouco a pouco a não saber mais o que
falar: queria comungar o que tinha de
mais precioso, mas isso não fez sentido e fui sentindo cada vez mais no peito
sentido o gosto da língua, amargo e fino. Começando lentamente a ser consumidas
pelas amenidades. Falando como desconhecidas no elevador. Os poucos e parcos minutos
que corriam viraram eternidade. Eternizaram. Meus autores ajudaram.
O Reverso ou o Oposto complementar chato pra caralho.
Um revés. O oposto. A outra margem. Seus contornos conversam
com os meus. Mato-me na chatice não do dito, mas do não dito. Tá,reconheço a
primeira pessoa que insiste em aparecer e minha inabilidade em fazê-la
desaparecer. Tá, eu me sinto meio deslocada e despersonalizada sendo posta em
um táxi depois de todo esse suor. Tá, trinta e cinco reais é um alto preço pelo
serviço de transporte. Tá barato. Barato despir, beijar e gozar. Mas se paga.
Não o táxi. Se pega. Não a voz. Se pernas.
Paga- se o barulho que se espera esvaziar das glândulas ansiosas. Eu sou
toda ansiedade, menos a glandular. Tenho a pele ansiosa, a língua voraz que
confunde e desbaratina. Você não aguenta. O seu não aguentar custa trinta e
cinco reais. Se aguentasse, seria mais caro. Seriam as suas horas sem hóstias
desgostosas, mas principalmente os seus ouvidos: em suas frágeis cartilagens
não cabem as necessidades primeiras. Tá. Te incomoda não chegar a lugar nenhum?
Entendo. Sim, o lance tá de pé e tu pode pagar o táxi se preferir, não me incomodo. Não há o que discutir se é
mármore, pois não tem poros. Você não absorve, não deixa -se misturar. Eu tenho
uma porção de tintas e livros, de papéis avulsos e de cadernos enumerados. Tava
tudo tão certo. As mesmas linhas, tu seca e eu brisa. Espelho, reflexo de ponta
cabeça nas linhas parecidas. Os contornos eram exercidos no mesmo molde. Sim,
posso conversar até amanhã. Podemos multiplicar o silêncio e o nada e neles
comungar, como a rua que circunda um parque: ninguém pisa na grama, e a rua tem
no mínimo três direções possíveis. E tu te afastas para não molhar os pés na
grama orvalhada, como que temerosa de pisar na bosta. Podemos. Podámos. Mas
você insiste nesse telefone, insiste em ligar para o primeiro número de ponto
de taxí vinte e quatro horas fornecido pelo google para não pisar na merda.
Relaxa, tudo está como previstes ou até menos oneroso.
Trinta e cinco reais.
Um café é mais barato, mas implica correr o perigo de se
emendar na conversa além da própria intenção, além da própria glândula. É
barato caro deixar-se para criar no novo e híbrido que dissipa na porta do
taxí. Mas não se paga, se cansa. Não se pega, evade-se. Não se abre nada além
de glândulas e pernas. Não tenho dinheiro suficiente para pagar o aluguel do
teu tempo, tenho menos ainda intenção unívoca de venéreas partes veneráveis se
não forem montáveis, desmontáveis, remontáveis. Tu só se apresenta em peças e
eu devoro corpos às multidões, mas sempre inteiros. Lambo os dedos no barato
caro de ouvir, falar, misturar, fazer alquimia com os desejos. Junto com as
partes, selecionadas como se fossem as únicas consideradas válidas, tu me
apresentas um acoplamento: não é uma parte, mas integra teu conjunto. O taxista.
Você me paga trinta e cinco reais para que eu me cale.
E eu pago, eu pego, eu pernas.
Eu te pago pra pegar nas pernas das tuas palavras. Eu te
pego para que pagues não apenas as pernas e as coxas, mas a cuca fundida e
fodida que tu não entendes. Eu te emperno toda a vez que vais escorregando nas
palavras amputadas, talvez pra te driblar e gorar tua aposta: pegar as pernas
ilesas e depositá-las na lata do lixo. Eu pago com moedas de ouro
nietzschinianas pela esmola que tu deposita na caixa da igreja, financiamento
de boquete em padre na zona, mas que ninguém sabe. Pensei numa aplicação de
baixo risco pra pagar, pois tuas palavras mancas cabem numa aplicação dessas,
mas não paguei, não peguei, não pernei. Risco é o cacete. Ou é inteira intensa
sob meus dedos ardilosos em extorquir a controvérsia e derrete comigo, ou paga
para que eu vá pisar na bosta sozinha.
E eu pago,
Eu pego,
Eu pernas cruzadas em suporte ao rascunho de todas as minhas
milhares que queriam a ti se apresentar antes, durante e depois de abrir-te,
mas tu só tinhas as pernas para negociar.
Desculpe, eu ainda não peguei o ritmo, o timming. Eu nunca
sei a hora certa de partir: sempre pago
para ficar um pouco mais suspensa nas palavras, e acabo indo embora tarde
demais, após o último ônibus. Só me sobra fechar as pernas das palavras e pegar
um táxi. Eu já entendi. Você paga. Dá trinta e cinco a corrida.
Muito ótimo...textos assim...Muito ótimo!
ResponderExcluirOlá Simone. Muito obrigada pelo elogio!!!É muito importante pra mim, que não sou escritora nem poetisa,mas tenho o hábito de por no papel ( nesse caso no WORD) algumas de minhas aflições. Espero que goste dos outros textos do Blog também! Em breve, teremos contos nessa mesma pegada. Abraços e valeu mesmo =)
ResponderExcluir