Pungente vontade de compartilhar o que sempre fora meu
Fiz
Não arrependo
Compartilhei, mesmo sendo arremedo
Poesia de começo
De paixão
Quis ser lida na minha língua mais profana
Mais escondida
Mais íntima
E mostrei

Escrevi algumas linhas.
Duas páginas
Uma folha
Em papel colorido de joaninha
Com letra cursiva
Bem desenhada
Reescrita várias vezes
Mostrei o que havia de meu, de só meu e meu só

Venci o medo de parecer pueril
Recitei as de outros autores
As que achava mais belas
Recitei Neruda
Recitei Bandeira
Emprestei Pessoa
Mas a dor foi de escrever Deborah

Escrevi todas as sensações pequenas
Comparado-as com flores, com orvalho
Escrevi-as de peito aberto e mente inquieta
Escrevi-as como se não soubesse me dizer de outro jeito
Me escrevi Deborah

Me mostrei escrita pela primeira vez
E meus versos foram lidos
Depois guardados em um roupeiro
Dobrados em três partes
Não sei a releitura
Não sei a sonoridade
Escrevi nós duas dizendo
"Tem que ser do jeito que couber toda nossa ansiedade"

Mas quem afinal coube naquelas palavras?
Quem foi levada em conta ?
Quem foi levada embora?
Escrevi a ti, sensações singelas
Mas a dor foi de escrever Deborah

Já devo ter sido amassada
E posta na lata do lixo
E de quem será a culpa?
Há culpa?
Pois quando escrevera eu já sabia
Que do finito do mundo
Contava com a lealdade dela
O que despedaçou o peito foi a espera vã
Depois de ter tomado coragem pela primeira vez
Pra ter me escrito Deborah.

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