Postado no antigo blog. Data original de escrita 10/07/2015



4 Roubaram-me as palavras: perdi, me perdi nas línguas de falar sensações.
Roubaram-me a cara: perdi, me perdi nas caras e nas bocas, nos olhares ao alto.
Roubaram-me a alma; perdi, me perdi nessa palavra catavento cataventos cataosventos, cata a todos nós.
Roubaram-me e já não me pertenço, não me possuo, não me domino.

Ou será que fui eu que me roubei?
Ou será que eu me furtei que eu me assaltei a mão armada, nas esquinas escuras do meu bairro?
Ou será que deixei o estúpido pássaro roubar todas as vertigens, todas as migalhas, todo o aconchego do ninho?
Ou, ou, ou...

E como se administra, como se entende, como se convive com esses espaços que tomam forma, que tomam vida dotada de alma, de razão...de RAZÃO NADA!
Para a razão porra nenhuma! A solidão é esse pequeno monstro amigável que me presenteia com consciência. Eu preciso, desesperadamente, desse monstro livre, solto, de cabelos ao vento e genitálias desimpedidas.
Existe na minha pele um conjunto supremo de lacunas, de espaços com alma espírito e carne.
Carne viva e flagelada. Conjuntos dançantes de não sei mais o que deveria saber pra perguntar o que estou fazendo aqui.
Carne viva e flagelada que precisa estar só, estar em silencio; ouvir os ruídos longínquos da cidade desgraçadamente suja, despropositadamente suburbana, imbecilmente habitada, vagarosamente tomada pelo estampido de escapamentos fumegantes e fétidos
Não são mais suportáveis os ruídos dos humanos. Irritam-me. Sozinha, irrito-me.
Irrito-me pois não consigo mais ouvir meus ruídos, meus sons, meus frágeis sons. Perguntam-me o que tenho, por que ando tão quieta.A covardia me impede de responder:
- Não consigo mais falar, desaprendi vossas línguas. Não me reconheço em minha voz. Não consigo querer falar.
E como dançam minhas lacunas!
Como dançam, algo admirável!
Deixo-as invadirem os espaços já preenchidos pelos outros.E está tudo lá. E está nada lá. Eu, eu mesma, irritada e sozinha, sinto-me preenchida com o som da goteira no balde. Os sons da casa vazia me enchem...de vazio.
E como danças essas lacunas!
Algo realmente admirável!

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